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NDCs e COP30: a hora da verdade climática

Faz dez anos que o Acordo de Paris nos deu um caminho. E agora, em 2025, o mundo chega à COP30 em Belém com uma pergunta simples e brutal: fizemos o que prometemos?

A resposta está nas NDCs, esses compromissos que cada país apresentou ao mundo. As NDCs (ou Contribuições Nacionalmente Determinadas ) são as metas que cada nação define para reduzir emissões e se adaptar ao aquecimento global, dentro do Acordo de Paris.

São elas que definem até onde podemos aquecer o planeta — e até onde ainda podemos ter esperança. 👉 Atualização de novembro de 2025 Segundo o Climate Watch Data Tracker (WRI) (1), até o início de novembro de 2025 72 países já apresentaram novas ou atualizadas NDCs, cobrindo cerca de 62% das emissões globais de gases de efeito estufa.Isso inclui as submissões recentes da China (3 de novembro) e da União Europeia (5 de novembro).

Apesar desse avanço, outros 125 países responsáveis pelos 38% restantes das emissões ainda não apresentaram novas metas. Isso revela a distância entre o que a ciência pede e o que a política entrega. Enquanto o planeta aquece, a arquitetura das promessas climáticas segue incompleta — e a janela de ação, cada vez menor.

 Climate Watch NDC Tracker (WRI), atualizado em 6 de novembro de 2025 (1)
Climate Watch NDC Tracker (WRI), atualizado em 6 de novembro de 2025 (1)

Dez anos depois de Paris, seguimos presos entre o discurso e a ação. E enquanto isso, o tempo da física, o tempo do carbono, não espera o tempo da política.

💣 Onde estamos: o retrato de um atraso coletivo

O último Emissions Gap Report 2025 não deixa dúvidas: Mesmo com novas metas, o mundo ainda está no rumo de um aquecimento entre 2,5 °C e 2,6 °C.

Ou seja, muito além do limite seguro de 1,5 °C.


Emissions Gap Report 2025 (2)
Emissions Gap Report 2025 (2)

📉 Caminhos diferentes para o mesmo desafio

Não existe uma solução única, nem uma trajetória idêntica para todos os países. Cada nação precisa definir seu próprio caminho, de acordo com sua história, estrutura econômica e possibilidades reais de transição.

Alguns têm florestas, outros tecnologia; uns ainda lutam contra a pobreza, outros contra o excesso de consumo.

Aqui, escolhi olhar para dois países onde vivi e que representam bem essa diversidade : o Brasil e a França. Dois modelos muito diferentes de ação climática, mas que enfrentam dilemas parecidos: como alinhar ambição e coerência.


🇧🇷 O Brasil: entre a esperança e o petróleo

As emissões brasileiras caíram 14% em 2025, segundo os dados divulgados esta semana pelo SEEG (Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima). É a maior queda desde 2010, impulsionada pela redução do desmatamento na Amazônia e pela expansão das energias renováveis.


Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) - 2025 (3)
Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) - 2025 (3)

Isso mostra que, quando o país decide agir, ele tem poder real de virar o jogo. O Brasil chega à COP30 com uma nova NDC mais ambiciosa: 53 % de redução das emissões até 2035, desmatamento zero até 2030, e a promessa de liderar uma transição ecológica justa (7).

Belém será o símbolo disso: Amazônia viva, povos vivos, futuro vivo.

Mas há um paradoxo difícil de ignorar. Enquanto o país fala em regeneração, a exploração de petróleo na Foz do Amazonas volta ao centro do debate. Essas contradições não nascem apenas da hipocrisia, mas da dependência.

O Brasil ainda financia parte de suas políticas sociais e investimentos públicos com royalties do petróleo e a transição energética, embora urgente, precisa de recursos que não vêm do carbono.


Essa é a encruzilhada: como mudar a base econômica sem desamparar a base social.

A mesma região que queremos proteger, pode se tornar palco de uma nova fronteira fóssil. E a pergunta que ecoa é: como conciliar um discurso de Amazônia verde com um projeto que cava mais fundo no carbono?

A Agência Internacional de Energia já foi clara: não há espaço para novos projetos fósseis se quisermos limitar o aquecimento a 1,5 °C (5). Cada novo poço é uma aposta contra o próprio planeta.

🇫🇷 A França: um plano sólido, mas um ritmo lento

Do outro lado do Atlântico, a França segue fiel à sua Estratégia Nacional Baixo Carbono. No papel, o país é exemplo: neutralidade até 2050, -90 % até 2040. Mas na prática, o próprio Haut Conseil pour le Climat reconhece:“estamos indo devagar demais (6).”

As emissões do transporte continuam quase estáveis desde 2015. A agricultura resiste às mudanças. E o ritmo atual é insuficiente para chegar lá.


Heads of delegations at the 2015 United Nations Climate Change Conference (COP21), which led to the signing of the Paris Agreement.
Heads of delegations at the 2015 United Nations Climate Change Conference (COP21), which led to the signing of the Paris Agreement.

Assim, temos duas histórias diferentes mas um mesmo dilema: O Brasil avança rápido na retórica e vacila na coerência. A França avança com método, mas sem velocidade.

Ambos mostram que a crise climática é também uma crise de ritmo, de prioridade, de imaginação política.

📚 Educação climática: a ponte entre a ciência e a ação

Talvez o maior desafio não seja tecnológico, mas educativo. A maioria das pessoas ainda não sente o que significa viver num mundo 2,5 °C mais quente.

2,5 °C não é uma estatística. É o colapso silencioso das florestas, o desaparecimento de recifes, o deslocamento de milhões (IPCC 2023 (8)). É o planeta dizendo que a nossa inércia tem um preço.

A educação climática é o antídoto contra a indiferença. Porque só quem entende o problema pode transformá-lo.

Evento ConscientizAçao em Porto Alegre - Giga Workshop do Mural do Clima
Evento ConscientizAçao em Porto Alegre - Giga Workshop do Mural do Clima

🌱 O que fazemos na Yby

É com esse olhar que trabalhamos na Yby Dinâmicas: transformar conhecimento em capacidade de ação. Unimos educação climática e estratégia de transição, da conscientização à implementação.

Com ferramentas como o Mural do Clima, o 2 Tonnes e a plataforma Sweep, ajudamos organizações a compreender o que está em jogo, medir seu impacto e construir planos reais de transformação.

Educar é o começo. Transformar é o caminho. Regenerar é o propósito.

🌎 O que está em jogo em Belém

A implementação das NDCs será o centro das negociações em Belém. Dez anos após o Acordo de Paris, o mundo ainda caminha devagar, sem sanções formais, mas com uma pressão crescente vinda dos mercados e da sociedade civil.

Para o Brasil e a França, 2025 é um ano decisivo: o primeiro tem a chance de provar que pode combinar descarbonização, justiça climática e desenvolvimento; o segundo, de manter a liderança europeia sem perder fôlego na implementação. A COP30 será mais do que uma conferência.

Será um espelho: de nossas promessas, de nossas incoerências e da capacidade real de agir à altura da ciência. Se o Acordo de Paris foi o tratado da esperança, Belém precisa ser o da coragem.

No fim, as NDCs não são apenas compromissos de governo, são convites à coerência. E quem souber transformar metas em estratégias concretas vai liderar a transição que o Acordo de Paris sonhou e que a COP30 precisa materializar.

Belém - Entre metropole e a Floresta
Belém - Entre metropole e a Floresta

Este artigo foi elaborado com base em relatórios oficiais e análises científicas atualizadas até novembro de 2025.


📚 Fontes e referências

  • (1) Climate Watch NDC Tracker (WRI), atualizado em 6 de novembro de 2025

  • (2) UNEP (2025). Emissions Gap Report 2025 – “Off Target.”Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).Dados sobre as NDCs e o cenário global de aquecimento entre 2,5 °C e 2,6 °C.https://www.unep.org/resources/emissions-gap-report

  • (3) Observatório do Clima (2025). “SEEG 2025: emissões do Brasil caem 14% e atingem menor nível em 15 anos.”

    Dados divulgados em novembro de 2025.

    https://seeg.eco.br

  • (4) UNFCCC – NDC Registry (2025).Repositório oficial das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) submetidas até novembro de 2025.https://unfccc.int/NDCREG

  • (5) IEA (2021). Net Zero by 2050 – A Roadmap for the Global Energy Sector. Agência Internacional de Energia.Declara que não há espaço para novos projetos de petróleo e gás se o mundo quiser limitar o aquecimento a 1,5 °C.https://www.iea.org/reports/net-zero-by-2050

  • (6) Haut Conseil pour le Climat (2025). Rapport annuel sur la neutralité carbone en France.Conselho de Clima francês.Destaca que a França deve dobrar o ritmo de redução anual de emissões para cumprir suas metas da Estratégia Nacional Baixo Carbono (SNBC).https://www.hautconseilclimat.fr/

  • (7) Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Brasil). Nova NDC 2025. Documento submetido à UNFCCC, com meta de redução de 53 % das emissões até 2035 e desmatamento zero até 2030.https://www.gov.br/mma

  • (8) IPCC (2023). AR6 Synthesis Report: Climate Change 2023.Relatório de síntese do Sexto Ciclo de Avaliação do IPCC, base científica para as políticas de mitigação e adaptação.https://www.ipcc.ch/report/ar6-syr/



 
 
 

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