NDCs e COP30: a hora da verdade climática
- Lucas Romao
- 6 de nov.
- 6 min de leitura
Faz dez anos que o Acordo de Paris nos deu um caminho. E agora, em 2025, o mundo chega à COP30 em Belém com uma pergunta simples e brutal: fizemos o que prometemos?
A resposta está nas NDCs, esses compromissos que cada país apresentou ao mundo. As NDCs (ou Contribuições Nacionalmente Determinadas ) são as metas que cada nação define para reduzir emissões e se adaptar ao aquecimento global, dentro do Acordo de Paris.
São elas que definem até onde podemos aquecer o planeta — e até onde ainda podemos ter esperança. 👉 Atualização de novembro de 2025 Segundo o Climate Watch Data Tracker (WRI) (1), até o início de novembro de 2025 72 países já apresentaram novas ou atualizadas NDCs, cobrindo cerca de 62% das emissões globais de gases de efeito estufa.Isso inclui as submissões recentes da China (3 de novembro) e da União Europeia (5 de novembro).
Apesar desse avanço, outros 125 países responsáveis pelos 38% restantes das emissões ainda não apresentaram novas metas. Isso revela a distância entre o que a ciência pede e o que a política entrega. Enquanto o planeta aquece, a arquitetura das promessas climáticas segue incompleta — e a janela de ação, cada vez menor.

Dez anos depois de Paris, seguimos presos entre o discurso e a ação. E enquanto isso, o tempo da física, o tempo do carbono, não espera o tempo da política.
💣 Onde estamos: o retrato de um atraso coletivo
O último Emissions Gap Report 2025 não deixa dúvidas: Mesmo com novas metas, o mundo ainda está no rumo de um aquecimento entre 2,5 °C e 2,6 °C.
Ou seja, muito além do limite seguro de 1,5 °C.

📉 Caminhos diferentes para o mesmo desafio
Não existe uma solução única, nem uma trajetória idêntica para todos os países. Cada nação precisa definir seu próprio caminho, de acordo com sua história, estrutura econômica e possibilidades reais de transição.
Alguns têm florestas, outros tecnologia; uns ainda lutam contra a pobreza, outros contra o excesso de consumo.
Aqui, escolhi olhar para dois países onde vivi e que representam bem essa diversidade : o Brasil e a França. Dois modelos muito diferentes de ação climática, mas que enfrentam dilemas parecidos: como alinhar ambição e coerência.
🇧🇷 O Brasil: entre a esperança e o petróleo
As emissões brasileiras caíram 14% em 2025, segundo os dados divulgados esta semana pelo SEEG (Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima). É a maior queda desde 2010, impulsionada pela redução do desmatamento na Amazônia e pela expansão das energias renováveis.

Isso mostra que, quando o país decide agir, ele tem poder real de virar o jogo.
O Brasil chega à COP30 com uma nova NDC mais ambiciosa: 53 % de redução das emissões até 2035, desmatamento zero até 2030, e a promessa de liderar uma transição ecológica justa (7).
Belém será o símbolo disso: Amazônia viva, povos vivos, futuro vivo.
Mas há um paradoxo difícil de ignorar. Enquanto o país fala em regeneração, a exploração de petróleo na Foz do Amazonas volta ao centro do debate. Essas contradições não nascem apenas da hipocrisia, mas da dependência.
O Brasil ainda financia parte de suas políticas sociais e investimentos públicos com royalties do petróleo e a transição energética, embora urgente, precisa de recursos que não vêm do carbono.
Essa é a encruzilhada: como mudar a base econômica sem desamparar a base social.
A mesma região que queremos proteger, pode se tornar palco de uma nova fronteira fóssil. E a pergunta que ecoa é: como conciliar um discurso de Amazônia verde com um projeto que cava mais fundo no carbono?
A Agência Internacional de Energia já foi clara: não há espaço para novos projetos fósseis se quisermos limitar o aquecimento a 1,5 °C (5). Cada novo poço é uma aposta contra o próprio planeta.
🇫🇷 A França: um plano sólido, mas um ritmo lento
Do outro lado do Atlântico, a França segue fiel à sua Estratégia Nacional Baixo Carbono. No papel, o país é exemplo: neutralidade até 2050, -90 % até 2040. Mas na prática, o próprio Haut Conseil pour le Climat reconhece:“estamos indo devagar demais (6).”
As emissões do transporte continuam quase estáveis desde 2015. A agricultura resiste às mudanças. E o ritmo atual é insuficiente para chegar lá.

Assim, temos duas histórias diferentes mas um mesmo dilema: O Brasil avança rápido na retórica e vacila na coerência. A França avança com método, mas sem velocidade.
Ambos mostram que a crise climática é também uma crise de ritmo, de prioridade, de imaginação política.
📚 Educação climática: a ponte entre a ciência e a ação
Talvez o maior desafio não seja tecnológico, mas educativo. A maioria das pessoas ainda não sente o que significa viver num mundo 2,5 °C mais quente.
2,5 °C não é uma estatística. É o colapso silencioso das florestas, o desaparecimento de recifes, o deslocamento de milhões (IPCC 2023 (8)). É o planeta dizendo que a nossa inércia tem um preço.
A educação climática é o antídoto contra a indiferença. Porque só quem entende o problema pode transformá-lo.

🌱 O que fazemos na Yby
É com esse olhar que trabalhamos na Yby Dinâmicas: transformar conhecimento em capacidade de ação. Unimos educação climática e estratégia de transição, da conscientização à implementação.
Com ferramentas como o Mural do Clima, o 2 Tonnes e a plataforma Sweep, ajudamos organizações a compreender o que está em jogo, medir seu impacto e construir planos reais de transformação.
Educar é o começo. Transformar é o caminho. Regenerar é o propósito.
🌎 O que está em jogo em Belém
A implementação das NDCs será o centro das negociações em Belém. Dez anos após o Acordo de Paris, o mundo ainda caminha devagar, sem sanções formais, mas com uma pressão crescente vinda dos mercados e da sociedade civil.
Para o Brasil e a França, 2025 é um ano decisivo: o primeiro tem a chance de provar que pode combinar descarbonização, justiça climática e desenvolvimento; o segundo, de manter a liderança europeia sem perder fôlego na implementação. A COP30 será mais do que uma conferência.
Será um espelho: de nossas promessas, de nossas incoerências e da capacidade real de agir à altura da ciência. Se o Acordo de Paris foi o tratado da esperança, Belém precisa ser o da coragem.
No fim, as NDCs não são apenas compromissos de governo, são convites à coerência. E quem souber transformar metas em estratégias concretas vai liderar a transição que o Acordo de Paris sonhou e que a COP30 precisa materializar.

Este artigo foi elaborado com base em relatórios oficiais e análises científicas atualizadas até novembro de 2025.
📚 Fontes e referências
(1) Climate Watch NDC Tracker (WRI), atualizado em 6 de novembro de 2025
(2) UNEP (2025). Emissions Gap Report 2025 – “Off Target.”Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).Dados sobre as NDCs e o cenário global de aquecimento entre 2,5 °C e 2,6 °C.https://www.unep.org/resources/emissions-gap-report
(3) Observatório do Clima (2025). “SEEG 2025: emissões do Brasil caem 14% e atingem menor nível em 15 anos.”
Dados divulgados em novembro de 2025.
(4) UNFCCC – NDC Registry (2025).Repositório oficial das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) submetidas até novembro de 2025.https://unfccc.int/NDCREG
(5) IEA (2021). Net Zero by 2050 – A Roadmap for the Global Energy Sector. Agência Internacional de Energia.Declara que não há espaço para novos projetos de petróleo e gás se o mundo quiser limitar o aquecimento a 1,5 °C.https://www.iea.org/reports/net-zero-by-2050
(6) Haut Conseil pour le Climat (2025). Rapport annuel sur la neutralité carbone en France.Conselho de Clima francês.Destaca que a França deve dobrar o ritmo de redução anual de emissões para cumprir suas metas da Estratégia Nacional Baixo Carbono (SNBC).https://www.hautconseilclimat.fr/
(7) Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Brasil). Nova NDC 2025. Documento submetido à UNFCCC, com meta de redução de 53 % das emissões até 2035 e desmatamento zero até 2030.https://www.gov.br/mma
(8) IPCC (2023). AR6 Synthesis Report: Climate Change 2023.Relatório de síntese do Sexto Ciclo de Avaliação do IPCC, base científica para as políticas de mitigação e adaptação.https://www.ipcc.ch/report/ar6-syr/



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